Juliano Casimiro
Entrevista concedida por email
- Porque “Eu-Outro”?
Desde que entrei na faculdade de artes cênicas e depois, durante meus estudos em psicologia, minha criação sempre constituiu um espaço de pesquisa sobre as relações humanas. Pretendo com o que produzo estabelecer espaços de discussão sobre os homens e suas relações, inicialmente com os profissionais envolvidos nos projetos, depois, com os espectadores de um modo geral. A escolha dos temas, textos, imagens, também passa por esse princípio: quais são caminhos possíveis para incentivar conversas sobre esse “assunto” que me/nos interessa neste momento? Acredito que a formação de “atores” está um pouco além das minhas capacidades e crenças pessoais; prefiro me dedicar à formação e desenvolvimento de seres humanos com habilidades artísticas específicas, e isso, mais uma vez, aproxima-me da necessidade de investir nas relações Eu-Outro. Assim, posso dizer que, para mim, na base, a essência da humanidade está centrada na possibilidade e na existência de relações Eu-Outro. Por isso, gosto de pensar que Eu-Outro Núcleo de Pesquisa Cênica seja um nome justo para com as intenções da Companhia e orgânico em relação às nossas propostas de encenação.
- O por quê da escolha de locais públicos para os ensaios?
Refletindo sobre o processo de construção e de viabilização dos espetáculos que venho produzindo, entendi a necessidade de se disponibilizar o próprio processo de construção dos espetáculos. Ou seja, não nos interessa que o público tenha apenas acesso ao produto final, mas que também possa acompanhar cada uma das etapas de elaboração dos nossos espetáculos. Penso sempre em uma organização estética que considere um público próximo, ativo, a partir de uma relação intimista mesmo. E se é assim, por que querer esse intimismo apenas no momento de apresentação? Parece-me mais justo que estabeleçamos essa relação desde o princípio do trabalho. Por outro lado, a inconstância dos espaços gera dificuldades interessantes para mim, enquanto diretor, para os atores, para Direção de Sonoplastia, de Iluminação, de Figurino, enfim, para todos; e eu creio que determinadas dificuldades possam ser absolutamente impulsionadoras da criação. Em diferentes espaços, diferentes perspectivas das relações Eu-Outro/Mundo se organizam, ou seja, vejo-me obrigado a reorganizar meu corpo nesse espaço para que ele esteja efetivamente em diálogo com o corpo do outro. Enquanto a diversificação de espaços possibilita o acesso do público às etapas de construção dos espetáculos, ela estabelece um substrato fértil para a criação.
- O que quer dizer “companhia publica” para o Eu- Outro Núcleo de Pesquisa Cênica?
O Eu-Outro Núcleo de Pesquisa Cênica se diz uma companhia pública por acreditar na necessidade de se abrir os percursos criativos a interessados, ainda que esses não sejam atores ou profissionais da área. Temos percebido nos ensaios, já públicos, que a cada espaço um grupo diferente de pessoas acompanha a companhia em suas atividades durante horas, alguns deles, inclusive, vêm conversar comigo durante ou após os ensaios. Essa viabilização dos processos vai, aos poucos, aproximando diferentes públicos das nossas produções. O Núcleo, ainda, não se pretende um produtor de espetáculos, simplesmente, mas tem por objetivo, também, desenvolver projetos de cunho sociocultural. Como ações futuras, pretendemos oferecer cursos, palestras, realizar exposições, participar ativamente do universo sociocultural do interior paulista. Nossas atividades, sempre que possível, serão gratuitas ou oferecidas a preços populares. Desejamos estabelecer parcerias com diferentes empresas e profissionais para que se torne possível a sustentabilidade de projetos. Queremos mobilizar empresas particulares a se vincularem a causas socioculturais.
- O Núcleo trabalhará a luz de quais autores?
O Núcleo não trabalhará a luz de autores, mas de conceitos. Por ser um núcleo de pesquisa, escolhemos um período histórico e a partir do estudo desse período é que serão elaboradas nossas produções. Ou seja, ainda que trabalhemos com textos gregos clássicos, por exemplo, esses serão adaptados a partir do que vimos estudando, a saber, o comportamento e desenvolvimento humano após o iluminismo. Passamos por diferentes correntes estéticas. Deixamos nosso corpo a deriva em diferentes caminhos para conseguir, desse modo, trilhar nossos caminhos pessoais de pesquisa.
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